sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Valsa dos Sonhos Tortos

Fim, ele disse. Fim, eu concordei. E atalhei que o fim dele era diferente do meu. Meu fim não permitia concessões. Era absoluto. Senti a vontade dele vacilar e meu íntimo espelhava o mesmo quadro. Não era aquele fim que eu queria. Na verdade nenhum fim chegava perto do que eu queria, porque eu não queria fim nenhum. Mas se fim era o consenso, que fosse do meu jeito.

Findamos. Ele se foi, triste como quem acaba de decretar o fim de algo. Eu fiquei, triste como quem acabou de ouvir o decreto da própria morte. E o expulsei da vida. Mas não de mim. Em mim ele ficou e eu me pus a contar o tempo feito compassos de valsa, um dois três, um dois três. O tempo descompassou, meu coração perdia a velocidade. Comecei a pensar se o fim dele se estenderia a mim. Se ele podia nos findar e tentar outros inícios, por que eu não conseguia findá-lo dentro do coração?

Um dois três, um dois três.

Uma pausa de mil compassos, por favor.

Já não havia mais acordes praquela valsa desajeitada. E olha que eu a considerava minha masterpiece. Mas o compositor sabe quando tem de parar, quando as dissonâncias fazem doer os tímpanos e quando as repetições criam em qualquer ouvinte o desejo do silêncio. Escrevi a nota final e mudei de partitura. E de clave.